A literacia é hoje complexa — social, comunitária, culturalmente definida, diversificada e potencialmente transformadora (Snow, 2004). Na ótica da UNESCO (2010), a literacia é um direito humano básico, uma ferramenta para o empoderamento e um meio para o desenvolvimento social e humano. Por outro lado, o papel da formação vai além da aquisição de conhecimentos e de aptidões cognitivas, incluindo o apoio à construção de valores e soft skills que promovam a transformação social.
À medida que o processo de globalização evolui, contribuindo para perpetuar desigualdades à escala mundial, a necessidade de pedagogias transformadoras que permitam aos grupos aprender e agir sobre preocupações coletivas da humanidade é cada vez maior. Há uma pressão crescente sobre os formadores para que sejam sensíveis a esta realidade e reconheçam o impacto desta sobre os seus formandos. Os formadores têm, assim, uma oportunidade única para desenvolver e moldar a consciência social dos seus formandos em relação ao mundo que os rodeia, bem como para aumentar a sua compreensão e empatia relativamente à diversidade e interligações existente neste mesmo mundo. É, pois, necessário redefinir o conceito de literacia de forma a abarcar o reconhecimento da importância vital de questões ético-morais (Sanders, 1994: 25).
Para apoiar esta abordagem transformadora, a Educação para a Cidadania Global (ECG) pode ser incorporada em vários programas no campo da literacia. A ECG visa aumentar a consciência e a compreensão do mundo em rápida mudança, interdependente e desigual no qual vivemos (WWG, 2020). Explicitamente mencionada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, a ECG é perspetivada como uma via para que todos os indivíduos adquiram as competências necessárias para promover o desenvolvimento sustentável. Nas metodologias da ECG, o Espaço Aberto para o Diálogo e Consulta (EADC) (Andreotti et al., 2006) é um ponto de partida para os formadores começarem a tomar contacto com estes temas complexos e os introduzirem nos seus contextos de aprendizagem. O EADC baseia-se em três princípios:
Os formadores são também encorajados a encarar a ECG como transdisciplinar, ao invés de um “acréscimo” de conteúdos. A ECG é adequada para contextos de aprendizagem formal e informal, de aprendizagem participativa e de intervenção curricular ou extracurricular. A ECG deve também ajudar os formandos a examinarem as causas e a complexidade de questões globais associadas ao desenvolvimento sustentável.