Brian Street é, provavelmente, o pensador responsável pela nossa atual noção de literacia. Na sua ótica, a literacia não é a aquisição de uma única competência, sendo antes um conceito plural (Street, 2016). Partindo do conceito antropológico de “práticas sociais”, isto é, a influência das culturas nos padrões de comportamento individuais ou de grupo, este autor identificou aquilo que denominou “práticas de literacia” — o conjunto de atividades humanas e/ou contextos que envolvem a leitura ou a escrita.
As práticas de literacia são diversas e mudam ao longo do tempo. Por exemplo: escrever um cartão de aniversário é uma atividade muito diferente de escrever uma lista de compras, mas ambas podem, atualmente, ser realizadas através de ferramentas digitais. Dada a multiplicidade de literacias e de práticas de literacia, Street refere-se também à existência de “literacias dominantes” para designar práticas de literacia que, de alguma forma, conferem poder ou de prestígio aos indivíduos. Mas também as “literacias dominantes” estão sujeitas à mudança. Atualmente, especialmente no contexto da pandemia da COVID-19, as literacias dominantes são tendencialmente digitais. Assim, são precisamente as literacias digitais que devem assumir um papel central no campo da formação de adultos, especialmente em contextos de aprendizagem associados à alfabetização básica.